Saturday, February 12, 2011

Isto É o Brasil

Para aqueles que se orgulham dessa merda absoluta de país segue um relato que o retrata fielmente. Da coluna de Ruth de Aquino na Época:
Há um mês, a procuradora do Trabalho Ana Luiza Fabero fechou um ônibus, entrou na contramão numa rua de Ipanema, no Rio de Janeiro, atropelou e imprensou numa árvore a empregada doméstica Lucimar Andrade Ribeiro, de 27 anos. Não socorreu a vítima, não soprou no bafômetro. Apesar da clara embriaguez, não foi indiciada nem multada. Riu para as câmeras. Ilesa, ela está em licença médica. A empregada, com costelas quebradas e dentes afundados, voltou a fazer faxina.
Na hora do atropelamento, Ana Luiza tinha uma garrafa de vinho dentro da bolsa. Em vez de sair do carro, acelerava cada vez mais, imprensando Lucimar. Uma testemunha precisou abrir o carro para que Ana Luiza saísse, trôpega, como mostrou o vídeo de um cinegrafista amador.
Rindo, Ana Luiza disse, para justificar a barbeiragem: “Tenho 10 graus de miopia, não enxergo nada”. E, sem noção, tentou tirar os óculos do rosto de um rapaz. A doutora fez caras e bocas na delegacia do Leblon. Fez ginástica também, curvando e erguendo a coluna. Dali, saiu livre e cambaleante para sua casa, usando um privilégio previsto em lei: um procurador não pode ser indiciado em inquérito policial. Não precisa depor. Não pode ser preso em flagrante delito. Não tem de pagar fiança. A mesma lei exige, porém, de procuradores um “comportamento exemplar” na vida. Se Ana Luiza dirigia bêbada, precisa ser afastada. Se estava sóbria, também, pela falta de decoro.
Foi aberta uma investigação disciplinar e penal contra ela em Brasília, no Ministério Público Federal. Levará cerca de 120 dias. Enquanto seus colegas juízes a julgam, Ana Luiza Fabero está em “férias premiadas” no verão carioca. Ela não respondeu a vários e-mails e a assessoria de imprensa da Procuradoria informou que o procurador-chefe não falaria nada sobre o assunto porque “o processo está em Brasília”.
Lucimar está traumatizada, com medo de se expor, porque a atropeladora tem poder. Não procurou um advogado. Nasceu na Paraíba e acha que nunca vai ganhar uma ação contra uma procuradora do Trabalho. Lucimar recebe R$ 700 por mês, trabalha em casa de família, tem um filho de 6 anos e é casada com Aurélio Ferreira dos Santos, porteiro, de 28 anos.

3 comments:

Anonymous said...

E aí aparecem os genios para dizer que nosso problema é o câmbio...

"O" Anonimo said...

A cara do Brasil mesmo... Pais triste.

j.a.mellow said...

É aquilo que o Antropólogo Roberto da Matta bate sempre, na mesma velha tecla: nós somos e nos consideramos um país de desiguais, e portanto seu fulano tem obrigações que eu não tenho e eu tenho direitos que o fulano lá, não tem. Agora, aonde está escrito isso! As Constituições são feitas á semelhança de comportamentos pré-existentes numa sociedade. Então, que pelo menos tivessem a hombridade de admitir isto na hora de criarem-se as leis, ainda mais a lei mais importante de um país.
Se a nossa Constituição não representa a nossa cultura, as nossas diferenças, viveremos a vida toda a ferí-la, achando o tal "seria se fôsse", tendo vergonha de escrever aquilo que fazem e achando que ao escrever estará tudo resolvido.