Sófocles, Da Vinci e o Mito do Renaissance Man

Leonardo da Vinci era um bom pintor de paredes. O mito do renaissance man que seria personificado por ele é certamente um exagero. O conceito de renaissance man é, como qualquer coisa boa da renascença, uma criação grega, mais especificamente de Péricles. Péricles disse que na democracia ateniense seus cidadãos são capazes do mais alto engenho e graça na mais ampla série de atividades, em suma, eles são bons em tudo que presta. Um exemplo é dado por Sófocles, autor de obras primas teatrais, que além de escrever também as produzia [produziu mais de uma centena], dirigia e atuava, se bem que desistiu de atuar por não ter um vozeirão. Ele foi eleito general e depois para um comitê para administrar Atenas. Evidentemente esse ideal do homem completo, ateniense, não resistiu ao tempo. Num de seus inúmeros delírios Marx argumentou que sob o socialismo o homem atomizado, explorado, alienado do capitalismo seria substituído por um novo homem, um homem que labutasse pela manhã e compusesse poemas a tarde. Todavia essa espécie de renaissance man marxista está muito longe do ateniense de Péricles, está mais para uma mistura entre Lula e Glauber Rocha, entre a 51 e a coca bolivariana, entre a falastrãonice [gostaram do neologismo?] e um amontoado de merda na cabeça, entre a picaretagem e o parasitismo.