A economia ganhou o apelido de dismal science por causa de Malthus. Malthus criou o conceito de estado estável, i.e., o equilíbrio de longo prazo. Sua teoria da população é essencialmente uma teoria da distribuição de renda: quando a renda dos trabalhadores está acima do nível de subsistência a população cresce fazendo a renda cair até o nível de subsistência e quando está abaixo a população decresce o que faz a renda aumentar até o nível de subsistência. Os fatores reguladores do excesso de população são guerras, peste e fome. O fim dos tempos, o steady state de longo prazo para Malthus era uma população vivendo na pobreza ao nível de subsistência, daí a lei de ferro dos salários; bem vinda dismal science.
Malthus era um pastor Anglicano, seu pensamento econômico foi afetado pelo sua maestria da Bíblia. Os mecanismos de redução da população, por exemplo, ecoam Jeremias que repete seguidamente em suas pragas que o povo Hebreu pecador morrerá pela guerra, fome e peste. Mais ainda, Malthus reescreve em economia as palavras de Deus para Jeremias: eu prevejo ruína e não prosperidade [Jeremias 39, 16]. Dismal science de dimensões bíblicas. Malthus foi o primeiro profeta do futuro econômico, do doom.
Uma das funções primordiais de um religioso na Antiguidade era fazer divinações. Prever o futuro numa sociedade rural pobre não era muito difícil: havia de falar sobre a fertilidade da terra, do gado e da família e se a pessoa morreria de morte violenta. Uns o faziam inspecionando as entranhas dos animais sacrificados, outros nos vôos dos pássaros e nos formatos das nuvens. Entre os Judeus, as divinações para merecer credibilidade deveriam ser pontuadas e consistentes ao conhecimento detalhado da lei Mosaica e das tradições religiosas e orais [ainda não havia a Bíblia]. Se o homem de fé atentasse fazer previsões sobre o destino do governo e do povo, ele certamente seria ridicularizado, preso, julgado, condenado e executado.
Jeremiah, o profeta, não foi uma exceção.
Jeremiah lamentava e praguejava repetindo orações dos Salmos de Davi [particularmente raivosos e bipolares], ele amaldiçoava e ameaçava seguindo Moisés a letra. Acusava o povo de adorar e sacrificar crianças a outros deuses, de quebrar a lei mosaica; por isso seria punido por Deus pela sua espada, pela fome e pestilência. Jeremiah foi perseguido, acusado de ser quinta coluna e como execução foi jogado num poço. Sorte sua que não havia água, só lama em que ele mergulhou. Morreria lentamente de fome, mas foi salvo por um eunuco Etíope, provavelmente um burocrata palaciano ou leão de chácara de harém, chamado Ebed-melech.
Levado para conversar com Zedekiah, o rei de Judah, Jeremiah disse para o rei se render e a cidade e sua família seriam poupados. Zedekiah se recusou. Nabucodonosor sitiou Jerusalem por dois anos. Quando a conquistou capturou a corte que fugia. Executou na frente de Zedekiah todos os seus filhos e os nobres de sua corte. Tipicamente, seguindo as sofisticadas receitas de crueldade mesopotâmica estabelecidas pelos Assírios, o Caldeu Nabudonosor extraiu os olhos de Zedekiah e o acorrentou para ser exibido como troféu nas ruas da Babilônia. Quanto a Jeremiah Nabuconossor ordenou: “cuidem bem dele, protejam-no e cumpram tudo o que ele pedir”.
A estória de Jeremiah ilustra que para ser considerado um profeta não basta fazer divinações ou conhecer e ouvir a palavra divina, é preciso mais, é necessário que suas profecias sejam de impacto e que se realizem e que o profeta pague com sua credibilidade [e vida] o ônus de suas previsões.
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