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Um país que evoluiu da oca e senzala ao abismo, barbárie e caos, sem ter experimentado a civilização
“Você só abre a boca para espinafrar, e você frequentemente me fere, não pelo poder do que disse, mas por sua intenção”
François La Rochefoucauld, Maximes
“A escória da terra se une, torna-se uma associação de criminosos ou revolucionários, encontra um visionário ou algum agitador cosmopolita para liderá-la, estabelece seu próprio código de ética, impõe a nefasta disciplina da bandidagem sobre seus membros, e se prepara para submeter a sociedade livre que permitiu sua existência”.
George Santayana, The Irony of Liberalism
1 comment:
Alguém aí sabe quem é Maicon Jonathan? Eu o conheci. Era um menino pardo, provavelmente filho sem pai e com mãe convertida a alguma dessas religiões que transformam o ser humano em gado, em importação tresloucada dos sermões mórmons que fazem exatamente o oposto. Era um menino engraxate que, invariavelmente, tanto quanto eu faço, fazia ponto no mesmo bar que há anos freqüento. Nem sempre solicitava seus serviços. Mas sempre nos cumprimentávamos como cidadãos. Às vezes, em sua traquinice infantil, me pedia para lhe pagar um guaraná ou coca-cola, pois bem sabia que dinheiro em espécie jamais lhe daria. Ele tinha um ofício:era um engraxate. Desse ofício arrumava dinheiro em quantia exata a ser entregue a sua mãe, em ritual comum nos arredores das grandes cidades brasileiras. Jamais reclamara disso. Não era uma exploração. Era sua obrigação de filho. Quando lhe sobrava um trocado, fazia o que toda criança faz: vai gastar sua mesada em diversões eletrônicas. Acontece que ele morava no Pedregal, terra em que bandido tem mãe e escritório cativo. Acontece ainda que Maicon e seu colega , depois da lide e com dinheiro no bolso em quantia o suficiente não só para brincar, mas também para comprar um presente para sua mãe em dia próprio de fazê-lo - véspera do dia das mães - acharam de ir a um desses bares que tem jogos eletrônicos. Acontece que era dia de um ajuste de contas entre bandidos que tinham como missão executar o dono do bar; missão cumprida. Foi-se o dono do bar em tiroteio de uma única direção. O colega de Maicon conseguiu fugir. Maicon se escondeu, mas deixou a mostra sua nuca de criança que espiara o feito homicida em espanto indescritível. Acertaram-lhe mais de 6 tiros na nuca, com o intuito simples de eliminar provas. Sua mãe recebeu o trocado que Maicon arranjara para lhe comprar o seu presente de dia das mães, junto com o cadáver do filho. O povo de lá põe a culpa no saídão ? dia em que soltam bandidos para visitas especiais. Sua mãe fez um santinho com seu retrato, com mensagem de que ele cumpriu sua missão na terra e que agora está feliz em outra dimensão. Eu amanhã volto ao meu botequim e continuarei cumprimentando os novos Maicons que em dúzias passam por lá. A rotina, como vocês sabem, será a mesma. Temo apenas pela freqüência.
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