Friday, August 28, 2015
Sobre Orwell e o Assassinato de Caráter Promovido Pela Esquerda
Demétrio Magnoli é o único intelectual de esquerda do Brasil que é de fato um intelectual: sabe ler, escrever e articular idéias. Escreve um texto primoroso sobre George Orwell e a tática de difamação, de assassinato de caráter, tão comum e cara aos gorilas comunistas que combatem na guerrilha cultural travestidos de jornalistas, historiadores ou intelectuais: A difamação de Orwell ganhou tração no pós-guerra, logo após sua morte, por iniciativa do Grupo de Historiadores do Partido Comunista Britânico, que contava com figuras como Maurice Dobb, Cristopher Hill, Eric Hobsbawm e Edward P. Thompson. Eles não o perdoavam pela sua crítica implacável aos intelectuais de esquerda que, colocando um sinal de igual entre democracia e fascismo, tinham oferecido suporte ao Pacto Germano-Soviético de 1939.
A operação difamatória funcionava menos como vingança e mais como uma queima de arquivo. Nas vésperas da guerra, os intelectuais comunistas britânicos distribuíram panfletos celebrando a aliança entre Stalin e Hitler. Crismar Orwell com a marca do traidor era um expediente destinado a incinerar os textos perigosos, lavando as reputações dos “amigos do povo”. Thompson, em especial, consagrou-se à missão purificadora. Aproveitando-se da circunstância de que um homem morto não pode retrucar, recorreu simplesmente à mentira, acusando-o de ser “obsessivamente” sensível à “menor insinceridade” da esquerda, mas surdo e cego à “desumanidade da direita”. A ideia era relegar o alvo ao esquecimento, o exílio mais pesado para um escritor.
No fim, Orwell triunfou. É bem certo que os porcos ainda estão entre nós — continuam a se confundir com os humanos e, inclusive, se multiplicaram. Entretanto, a condenação ao exílio não funcionou. “A revolução dos bichos”, recusada por diversos editores britânicos e americanos que se curvavam aos interditos da esquerda oficial, converteu-se numa das obras definidoras do século XX. É uma obra especial, capaz de encantar uma criança de 11 anos que nunca ouvira falar da Revolução Russa, de Stalin, dos Processos de Moscou, da Guerra Civil Espanhola e de toda essa pilha de cadáveres insepultos nos campos de guerra das utopias ideológicas.
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