Friday, March 17, 2017

Martin Fierro: A Alma Hermana com Espírito Brazuca

Infelizmente há mais semelhanças entre o Brasileiro e o Argentino do que queremos aceitar. O Brasileiro se acha esperto e malandro, mas não passa de um zé mané, otário que paga imposto para sustentar os vagabundos que elege achando que vai se dar bem.

O argentino ideal, Martin Fierro, criação poética de José Hernández é ladino, milongueiro, mulherengo e peleador, i.e., se acha malandro e esperto como o Brasileiro só que mais varão e viril. E como seu vizinho, o hermano também só se fode nas mãos do governo. Hernández tentou entender o gaucho, sujeito pouco articulado, mas cantador, de pensamento ilógico, preguiçoso e chegado numa caña [e quando tem dinheiro, ginebra e vino], tacanho e de sangue quente. Provocador que paga para entrar numa briga e paga mais ainda para não sair dela. Martin Fierro, o gaucho de Hernández, é um camponês que vive satisfeito em sua terra com sua família. O governo o obriga a servir no exército na luta de extermínio dos índios [anos 1870]. O exército é a instituição que é a Argentina em si. Fierro chega na fronteira e não há armas, muito menos munição, pois os oficiais já venderam tudo e ainda por cima obrigam os recrutas a trabalhar de graça em suas terras. A indiarada nada de braçada, roubando e matando a torto e a direito por causa da incompetência do exército.

Fierro deserta, volta para casa mas não encontra a mulher e os filhos e perde suas terras. Fierro vira um cimarron, algo comum nos pampas argentinos quando no século XVIII escravos negros eram seu principal produto de exportação. Vai a um baile e ve uma negra atraente. Borracho, mexe com ela: “Va ca…yendo gente al baile”. Ela indignada responde: “Más vaca será su madre”. Vai atras dela, provocando. Seu acompanhante se indigna, Fierro diz: “Po…r…rudo que un hombre sea, nunca se enoja por esto”. O moreno responde: “más porrudo serás vos, gaucho rotoso”. O pau come solto e Fierro o esfaqueia e mata.

A literatura brasileira tentou criar um personagem a altura de Fierro, mas sem sucesso. O Sertanejo de Euclides da Cunha tinha a ignorância, boçalidade, fé cristã e irracionalidade de Fierro, o Jeca Tatu de Lobato, caboclo como Fierro, tinha a preguiça e inadaptabilidade `a civilização como melhores características. O sucesso de Martin Fierro vem da identificação natural do Argentino com o personagem, e o terreno é tão fértil que gerou literatura de verdade, só que em Paris, mas trata-se de uma  obra-prima, Don Segundo Sombra. Ao mesmo tempo o Brasil ficou patinando e pariu em São Paulo um puro produto alóctone do modernismo francês, Macunaíma.

1 comment:

Augusto said...

Agradeço a indicação do livro.