Thursday, August 24, 2017

Fé e Submissão em Santa Teresa e a Integridade do Intelectual Segundo Olavo de Carvalho

Olavo de Carvalho desenvolve a tese de que a Filosofia e as ciências se desenvolveram durante mais de 2000 anos unindo o conhecimento do mundo ao autoconhecimento individual e o cultivo das virtudes. A ascese interior e busca da sabedoria se tornam dispensáveis no mundo moderno em que a busca do conhecimento se profissionaliza e se realiza em instituições de ensino submetidas e fiscalizadas pelo Estado. A profissionalização burocratiza o scholar, que deve seguir regulamentos administrativos; fratura a unidade do conhecimento por requerer maior especialização e, fundamental, exige traquejo social e/ou habilidade política.

Um bom exemplo da tese Olaviana é o de Santa Teresa de Ávila. Ela é uma das maiores escritoras da língua espanhola. Comparada a Inácio de Loiola, a quem seguia os exercícios espirituais, e ao amigo que mentorava, João da Cruz, que escreviam muito mal, num estilo seco e pobre que retratava a própria dureza da alma, Santa Teresa flui, com leveza e clareza, mesmo quando disserta sobre temas obscuros e misteriosos revelando seus pensamentos e visões. Suas meditações só vieram a lume porque seu[s] confessor[es] a ordenou escrever e publicar. Curiosamente uma de suas obras, Concepções do Amor Divino, ele a mandou queimar, e ela prontamente o atendeu. Uma outra freira, no entanto, havia copiado 7 capítulos da obra que foram preservados e publicados meio século após a morte de Santa Teresa.

A destruição do próprio livro por Santa Teresa se por um lado pode ser visto como um forte exemplo de ascese, de abnegação, de renúncia em busca da perfeição, por outro lado pode ser visto como um exemplo de censura de seu confessor ou da instituição maior, a Igreja Catolica, uma imposição arbitrária despegada dos méritos inerentes do livro. Uma expressão da fraqueza e dependência da Santa e sua submissão absoluta resultante deles. O livro Concepções do Amor Divino se baseia em algumas reflexões sobre os Cânticos de Salomão, obra que celebra o amor sexual. Não é difícil compreender que sendo escrito por uma freira Carmelita virgem o livro seria controverso, objeto de acalorado debate e censura, mesmo quando Santa Teresa transforma a sensualidade em pregação mística da união integral entre o indivíduo e Deus, um casamento mistico.

Ademais, é preciso relevar o fato de que Santa Teresa descende de uma família de cristãos novos, especialmente perseguidos pela inquisição. Uma das acusações mais comuns é a de que eles são falsos cristãos pois mantém privadamente os ritos e costumes de seus antepassados sefarditas. Talvez o confessor de Santa Teresa tivesse em mente que ela seria presa fácil pois os Cânticos eram lidos toda sexta feira a noite pela comunidade Sefardita.

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