Vintage Olavo de Carvalho, leitura obrigatoria:
No extraordinário relato que publicou sob o título Darkness at Dawn. The Rise of the Russian Criminal State (Yale: Universty Press, 2003), David Satter, ex-correspondente do Wall Street Jounal em Moscou, conta que o novo regime russo subseqüente à queda da URSS já nasceu criminoso porque a comissão de privatizações, no governo Yeltsin, não ligava a mínima para saber de onde vinha o dinheiro com que as empresas estatais eram compradas às pencas em leilões bilionários. Em geral vinha do próprio governo, pelas mãos de funcionários ladrões. Ou vinha do narcotráfico. Ninguém nem perguntava. Só o que queriam era privatizar tudo o mais rápido possível, para criar do nada uma classe capitalista sem lei, nem ordem, nem moralidade. Nem mesmo combater as quadrilhas criminosas lhes parecia necessário: afinal, elas faziam dinheiro, que era tudo o que importava.(...)
Se perguntamos por que os responsáveis pelas privatizações russas optaram por uma estratégia tão obviamente suicida, a resposta é simples e vem da boca dos próprios personagens, com uma candura admirável: eram todos homens de formação marxista, não só acostumados a um ambiente de crueldade incomum, mas persuadidos de que a “acumulação primitiva do capital” só é possível através do roubo, do saque, da desumanidade e da violência descontrolada. Para eles, o que estava acontecendo na Rússia era simplesmente natural, inevitável, imune a todo julgamento humano.
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