Excelente artigo de Flavio Gordon na Gazeta do Povo:
Embora possa soar escandaloso para a maioria da imprensa brasileira – que já não sabe distinguir entre o domínio subjetivo dos desejos e o mundo objetivo dos fatos –, fraudes eleitorais e contestações judiciais de votações não são novidade na história americana recente. Em 1994, por exemplo, tivemos na Pensilvânia (estado decisivo na presente corrida eleitoral) a revelação de um grande esquema fraudulento em favor do então candidato democrata ao Senado. O caso foi parar na Justiça, que, uma vez provado o crime, decidiu por invalidar a votação e ordenar que o candidato republicano lesado fosse declarado vitorioso.
A história foi contada pelo New York Times (que, na época, ainda fazia algo parecido com jornalismo, e não, como hoje, mera assessoria de imprensa para o Partido Democrata). Segue um trecho da matéria: “O juiz Clarence C. Newcomer concluiu que a campanha democrata de William G. Stinson roubou a eleição de Bruce S. Marks no Segundo Distrito senatorial do Norte da Filadélfia mediante elaborada fraude, pela qual centenas de residentes foram encorajados a votar a distância, mesmo quando não habilitados legalmente a fazê-lo… Em vários casos, segundo os republicanos que testemunharam durante o julgamento da semana passada, integrantes da campanha democrata forjaram cédulas por correio. Em muitas das cédulas, foram utilizados nomes de pessoas que vivem em Porto Rico ou estão na prisão, e num caso particular o eleitor já estava morto há algum tempo. ‘Foram apresentadas evidências substanciais de fraude maciça em cédulas por correio, mentiras, intimidação, assédio e falsificação’, escreveu o juiz Newcomer em decisão publicada no dia de hoje”.
Para quem acompanha de perto a história recente do Partido Democrata, nada disso surpreende. Desde os anos 1990, com a ascensão dos Clinton e, sobretudo, de Barack Obama, o partido do burrico passou a ser fortemente influenciado pelo estilo Saul Alinsky de fazer política, que consistia basicamente na ideia de infiltrar-se no sistema, corroê-lo por dentro e deixá-lo desabar sob o próprio peso – assim como uma fachada externa aparentemente intacta, mas estruturalmente carcomida por cupins.
Também, pudera. Alinsky, o Maquiavel da esquerda revolucionária americana (como o próprio gostava de se enxergar), começou a desenvolver a sua expertise em “organização comunitária” (uma profissão praticamente criada por ele) quando em contato com alguns dos mais notórios mafiosos de Chicago. Nos anos 1930, na condição de recém-doutor em Criminologia pela Universidade de Chicago, e psicologicamente atraído por tipos humanos antissociais, Alinsky arrumou um emprego na penitenciária Joliet, onde avaliava as possibilidades de concessão de liberdade condicional aos presos.
Nas suas incursões pelo mundo do crime, conheceu Frank Nitti, braço-direito do bando de Al Capone (que Alinsky classificava como sendo “de utilidade pública”), com quem desenvolveu um forte laço de amizade. “Nitti pôs-me embaixo das asas. Eu o chamava de Professor, e tornei-me seu aluno” – declarou em famosa entrevista à revista Playboy. De acordo com o jornalista e escritor Nicholas von Hoffman – aluno de Alinsky, e autor de um livro em homenagem ao mestre –, foi com Nitti e outros criminosos de Joliet que Alinsky aprendeu “os segredos de seu negócio”. Admissão muito significativa, pois, sob muitos aspectos, pode-se dizer que o negócio do “organizador comunitário” se assemelha mesmo ao do mafioso, também consistindo em fraude, trambique e intimidação.
Dentre as muitas estratégias políticas ensinadas pelo patriarca dos “organizadores comunitários”, destaca-se justamente o projeto de subverter o sistema eleitoral do país por meio da “inclusão” de centenas de milhares de eleitores ilegais. Com esse fim, Alinsky criou diretamente, ou inspirou, dezenas de organizações destinadas a afrouxar as legislações eleitorais nos vários estados americanos, com isso registrando ilegalmente uma multidão de eleitores cativos. Foi trabalhando como advogado numa dessas organizações, a Association of Community Organizations for Reform Now (Acorn), aliás, que Barack Obama começou sua carreira de “organizador comunitário” – função que, segundo Michelle Obama, definia em essência a missão política do marido.
Na condição de jovem acólito de Alinsky, Barack Obama deu o sangue pela Acorn, instruindo os membros dessa organização, hoje famosa por sua plataforma radical e marxista, com a adoção de táticas de “ação direta” e fraude eleitoral massiva. Como representante jurídico da organização, Obama foi bem-sucedido em minar as exigências para o registro de eleitores. Como informa matéria do Wall Street Journal (WSJ), esse laxismo legal foi aproveitado pela Acorn para inundar os livros de registros como nomes falsos, no que é considerado um dos maiores escândalos eleitorais da história americana. “Em 1996” – lê-se na matéria do WSJ –, “o sr. Obama preencheu um questionário listando os principais apoiadores de sua campanha para o Senado de Illinois. A Acorn estava no topo da lista (que não era em ordem alfabética)”. Já como presidente, por sua vez, o discípulo de Alinsky liderou o departamento que reverteu drasticamente os esforços da administração Bush para coibir as fraudes eleitorais.
Ainda que possa soar estranho o desejo de um presidente de provocar o colapso de um sistema que, afinal de contas, o elegeu, tudo se esclarece sob a lógica do método alinskyano – que, convém nunca esquecer, consiste em subverter o sistema desde dentro, e usar as instituições democráticas contra si mesmas. Como bons discípulos de Alinsky, os ativistas da Acorn desprezam o processo eleitoral por não confiarem no sistema tal como existe numa democracia capitalista. Assim como, para um Proudhon, a propriedade é um roubo, para Obama e demais acornianos, as eleições já são, em si mesmas, uma fraude, mero instrumento a serviço dos interesses dos ricos e poderosos – ou, como Alinsky preferia chamá-los, os “Possuidores” (the Haves).
Se o sistema eleitoral não serve ao povo – ou aos “Despossuídos” (the Have-nots), no vocabulário alinskyano –, então a fraude eleitoral está justificada como meio de transformação (por dentro) do sistema. Change! – esse era o mote da campanha de Barack Obama. Portanto, apenas quando um representante dos Despossuídos é eleito – e a despeito dos meios pelos quais o tenha sido –, pode-se dizer que a justiça foi feita e a “democracia” (no sentido particular que a palavra tem para comunistas e revolucionários, como, por exemplo, no nome oficial da Coreia do Norte) observada.
Essa crença permite à esquerda alinskyana (hoje encarnada no Partido Democrata) racionalizar os seus esforços habituais para suprimir e cancelar a exclusividade dos votos legais. Como declarou certa vez Zach Polett, diretor nacional de operações políticas da Acorn: “Os progressistas devem se pronunciar claramente contra os esforços para manter o status quo, que exclui eleitores por meio de restrições legais… Temos de lutar por eleições justas e acessíveis, e entender que os esforços para coibir a assim chamada ‘fraude eleitoral’ são, na verdade, tentativas de privar de direitos e silenciar nossos cidadãos mais vulneráveis”. E, como disse o próprio Obama, “se todo mundo votasse, isso mudaria completamente o mapa político neste país”.
Foi essa mesma mentalidade que levou Hillary Clinton, outra notória discípula de Alinsky, a propor em 2015 que o governo federal atropelasse as leis estaduais e registrasse automaticamente todos os potenciais eleitores, além de estender para 20 dias o prazo do voto antecipado por correio, transformando o Dia da Eleição em Mês da Eleição. Ambas as iniciativas, decerto, complicariam seriamente o trabalho de fiscalizar o já inflado registro de eleitores, bem como o de desmantelar possíveis fraudes. E esse era justamente o objetivo de Hillary, alguém com um longo histórico de apoio a medidas que enfraquecem a integridade do processo eleitoral.
No começo dos anos 1990, ao lado de seu marido Bill e de seu camarada Barack Obama (então ativista da Acorn), Hillary foi uma das principais apologistas da chamada Motor Voter Law, uma criação intelectual de Richard Cloward e Frances Fox Piven, dois acadêmicos fortemente influenciados por Alinsky. Cloward e Piven – também mentores da estratégia revolucionária de colapso do sistema financeiro mediante empréstimos forçados, que esteve na origem da crise do subprime, e que foi implementada, entre outros atores, pela Acorn – acreditavam que os Despossuídos tinham o direito moral de, por assim dizer, superaquecer o sistema político e eleitoral de modo a provocar uma mudança radical.
Em 20 de maio de 1993, ao assinar a Motor Vote Law na presença dos dois acadêmicos alinskyanos, e com madame Hillary a tiracolo, o então presidente Bill Clinton reconheceu o papel de Cloward e Piven na aprovação da legislação. Três anos depois, foi com estas palavras que Cloward defendeu a lei em entrevista à CBS News: “É melhor ter um pouco de fraude do que excluir dos registros eleitorais pessoas que deveriam estar lá”.
Em suma, não há nada de particularmente novo no atual esquema fraudulento utilizado pelos democratas para derrotar Donald Trump. Talvez possamos apenas nos assombrar com a participação algo inédita da grande mídia e das Big Techs no acobertamento (e, portanto, na garantia de sucesso) da fraude. Não se pode ainda prever o resultado disso tudo na Justiça americana, sobretudo quando o caso chegar à Suprema Corte. Pode ser que mude o resultado eleitoral, como pode ser que não. O que se pode afirmar seguramente, todavia, é que, em se tratando da esquerda revolucionária americana, o presente momento é apenas uma fase de aperfeiçoamento da metodologia alinskyana adotada pelos expoentes do Partido Democrata já há 30 anos, que promoveram definitivamente uma fusão entre atividade política e prática mafiosa. Afinal, como dito anteriormente, foi com o crime organizado que o pai dos “organizadores comunitários” aprendeu a tocar “o seu negócio”. Nada mais natural, portanto, que o partido político nele inspirado tenha transformado a fraude eleitoral no seu negócio particular. Se vivo fosse neste insano 2020, é possível que, contemplando a sua obra-prima, Alinsky dissesse, como Michelangelo a Moisés: Parla!
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