Na Palestina, no tempo de Jesus, dois sistemas educacionais competiam. O preferido pelos nobres e comerciantes das grandes cidades era baseado no modelo Grego, em que geometria, arte e filosofia se misturavam com esportes. Entre os pequenos comerciantes, artesãos e fazendeiros livres, com acesso a educação, a molecada era remetida a uma espécie de madrassa Judaica chamada bet talmud, “casa de aprendizagem”. O ensino básico era decorar a Torah, a lei escrita, em classes avançadas a garotada de 10 anos ou mais entrava na lei oral, que mais tarde foi recolhida no Talmud. Memorização, testada e cantada em voz alta era o método principal, seguida por exposição da lei e discussão. O professor geralmente expunha os ensinamentos através de parábolas. Técnica preferida de Jesus.
A educação de um bom, honesto e fiel cidadão Judeu era constituída por uma sólida base moral, erguida sobre o tripé do estudo da Lei, da História e da Ética. Essa fundação ensinava a lei divina através de exemplos históricos criticados do ponto de vista ético. Nessa Paidéia os homens sempre se deparam com o mal em seu dia a dia e toda solução deve encontrar o seu norte na Lei divina. A idéia era mergulhar nos erros humanos para evitá-los, inculcar o valor da Liberdade, reconhecendo os limites da autoridade humana contrastando-a com o poder absoluto de Deus.
E Davi, como sempre, fornecia o melhor exemplo. Nathan, enfurecido ao saber do adultério de Davi com Bathsheba e sua armação para matar seu marido em uma batalha, contou-lhe a parábola de dois pastores, um rico e o outro pobre. O rico ao receber uma visita decidiu sacrificar o único carneiro do pastor pobre, pois não queria tocar no próprio rebanho. Davi ao ouvir a estória ficou indignado com o pastor pão duro. Nathan disse-lhe então que ele era o pastor rico.
Toda parábola tem dois níveis de significação, o literal e o alegórico. Quando Davi entendeu a alusão a sua iniquidade, ela calou fundo na sua alma de escroque e patife. E então Davi escreveu um hino ao arrependimento, uma pequena obra-prima, o Salmo 51 [50 na Biblia Católica].
"16.Deus, ó Deus, meu salvador, livrai-me da pena desse sangue derramado, e a vossa misericórdia a minha língua exaltará.* 17.Senhor, abri meus lábios, a fim de que minha boca anuncie vossos louvores. 18.Vós não vos aplacais com sacrifícios rituais; e se eu vos ofertasse um sacrifício, não o aceitaríeis. 19.Meu sacrifício, ó Senhor, é um espírito contrito, um coração arrependido e humilhado, ó Deus, que não haveis de desprezar."
Essa é a essência do Evangelho do Arrependimento que mostra que só se pode Acreditar e ter Fé quem se arrepende genuinamente. Arrependimento é sacrifício, sacrifício das paixões do coração que impõe um limite a alma humana. Onde cessa o homem, começa Deus. É por isso que no Evangelho de João a palavra Arrependimento não aparece, em seu lugar, como sinônimo, temos a palavra e sentido de Acreditar, Crença numa clara mensagem de Fé.
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