Diziam que o Armênio Mikoyan, um dos diletos assessores prediletos de Stalin, era capaz de andar debaixo da chuva sem se molhar, tamanho a mineirice de sua falta de caráter. Ehrenburg era uma espécie de Mikoyan dos escritores soviéticos. Deveria ter sido fuzilado umas 15 vezes ou condenado a passar o resto da vida num Gulag. Mas, ninguém sabe como, sobreviveu.
Um dos maiores e mais persistentes mitos inventados pelos comunistas é que os regimes socialistas criam, promovem e executam um excelente regime educacional. Ehrenburg destrói essa mentira mostrando que a educação soviética é apenas doutrinação rasteira, padrão Paulo Freire. Tomem como exemplo a seguinte passagem de seu livro 'O Segundo Dia da Criação' [em inglês Out of Chaos]:
“O velho explicou que os atuais habitantes eram os netos de um deportado, e que esse deportado fora amigo de Dostoievski. Passavam as noites a discutir. Os alemães olharam para os meninos: eram dois rapazinhos de 13 ou 14 anos. Estavam instalados junto daquela mesma janela diante da qual Dostoievski escrevera os seus romances. Também eles escreviam: estavam a preparar as suas lições. Um alemão que sabia russo pegou no caderno e leu: “Na América há um automóvel para cada sete habitantes, mas no fim do Segundo plano quinquenal nós teremos certamente ultrapassado os Americanos…”
Perguntou aos meninos: - vocês leram livros de Dostoievski?
Os garotos responderam: - Não
De escritores não conheciam senão Puchkin, Gorki e Bezymenski.”
É evidente que o livro foi rejeitado para publicação pelos censores soviéticos. Ehrenburg que bebia um biotônico Fontoura de óleo de peróba não se deu por rogado e mandou uma cópia do livro diretamente para Stalin que o mandou publicar.
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