Não
é coincidência que o Marxismo cultural, o pot-pourri das idéias de Lukács,
Gramsci e da Escola de Frankfurt tenha iniciado na década de 1920. O Marxismo
cultural é a tradução no ocidente dos experimentos levados adiante na primeira
década da Revolução Russa no seu esforço para criar o Homem Novo forjado pelos
valores comunistas. Bukharin, um dos poucos comissários Bolcheviques que sabia
ler e escrever, clamava pela reforma da psicologia dos indivíduos nos moldes
comunistas. Ele exorava como prioridade absoluta da sociedade Soviética a
preparação sistemática do Homem Novo.
Orlando
Figes, num dos livros mais importantes escritos sobre a sociedade Soviética,
The Whisperers, documenta detalhadamente alguns desses experimentos: 1) dissolução
da família; 2) feminismo; 3) revolução sexual; 4) substituição da educação pelo
doutrinamento partidário; 5) eliminação do espaço privado; 6) politização e
policiamento de todo comportamento humano; 7) aparelhamento de todas as
instituições sociais e públicas em apêndices do partido; 8) propaganda
sistemática e universal da ideologia comunista, e por aí vai, a lista é imensa
e tenebrosa.
A
moralidade comunista, que define o Homem Novo, é bastante simples e como
assinalado por Sinyavsky está sintetizada nos poemas “TVS” de Eduard Bagritsky
e “A Esbórnia” de Mikhail Svetlov: o homem novo deve mentir se o partido o
mandar mentir; ele deve matar, se o partido mandar matar. E ele deve se
orgulhar e festejar essas qualidades. Em suma, o Homem Novo deve fazer o que o
partido manda. Em essência, o Homem Novo é o militante leninista representativo:
um escravo do Partido Comunista, um utensílio da sua liderança hierárquica, um
servo fiel do seu líder.
A
função primordial do Marxismo cultural [também chamado de “Teoria Crítica”] é esconder
essa verdade primária por meio de uma névoa pretensamente filosófica, recheada
por uma algaravia vazia e incompreensível, para criar um ambiente propício para
a implantacão do comunismo através da revolução cultural, sem a necessidade de
uma violenta revolução política tradicional. Instrumental para esse objetivo é despistar
a essência leninista do Marxismo Cultural. Isso foi feito pela citação,
apropriação e reinterpretação de idéias, conceitos, insights e filosofias
ocidentais modernas. Quando o Marxismo ocidental fala de Hegel, Baudelaire, Nietzsche,
Freud e Schoenberg, ele está falando de Lenin, Lenin, Lenin, Lenin e Lenin.
Bukharin
inspirou uma das obras primas da literatura universal, Darkness at Noon, porque
sua merecida desgraça pelas mãos de Stalin resume todo o espírito
revolucionário. O ideário de Bukharin de criar o Homem Novo falhou miseravelmente
exatamente porque foi bem sucedido. A bestialidade humana, resultado último do
projeto e cometimento comunista, o exterminou. Ele próprio foi vítima dos homens
que foram doutrinados a mentir quando mandados mentir e morto pelos homens que
foram criados para matar quando ordenados a matar.
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