Wednesday, January 27, 2016

Kebab Kosher, Simão Pedro, Sinyavsky e a Bacchanalia Bolchevique

Nos Atos do Novo Testamento está claro que inicialmente os Apóstolos de Cristo acreditavam que sua mensagem se limitava aos Judeus e sua pregação se realizava principalmente em Sinagogas. Entendiam-se como uma espécie de nova seita Judaica, mas pertencendo e mantendo o judaísmo [sua cultura, rituais, tradições e instituições]. Um dia [Atos 10] Pedro delirando de fome teve uma visão divina em que vários animais apareceram e uma voz disse: “Mata e come”. Pedro, judeu ortodoxo, disse que não ia comer criaturas impuras e imundas [subentendo que não era Kosher]. A voz repetiu a mensagem 3 vezes [notem, Pedro era meio lento, tudo com ele tinha que ser dito 3 vezes]. Daí Pedro, a contragosto, pois para um Judeu não era correto congregar-se a não-Judeus, foi a casa de Cornélio, um centurião Romano. Pedro então teve um insight profundo que mudou o mundo. Ele entendeu que na visão Deus ordenava que ele se juntasse a todos os homens, que não há distinção entre Judeus e homens impuros [i.e., homens que não são circuncisados e que não obedecem a lei Mosaica]. A palavra de Jesus devia ser pregada a toda humanidade. Ali, na casa de Cornélio cheia de gentios, rezou a primeira missa e nasceu o cristianismo, uma religião universal.

O Marxismo-Leninismo, a doutrina do Comunismo, se concebe como ciência [materialismo histórico e dialético] e como tal se entende como universal e absoluto, pois supõe incorporar a totalidade das leis científicas tanto do mundo físico quanto humano; é, então, um dogma. Andrei Sinyavsky no seu clássico Soviet Civilization observa corretamente que a aplicação repentina do dogma através da revolução Bolchevique demanda violência e a violência só pode ser aplicada por quem detém o poder, i.e., por quem tem o monopólio da força. A violência assume a forma de um sacrifício expiatório com o massacre e assassinato em massa da burguesia, camponeses e todos os opositores imaginários ou reais do novo regime. Sinyavsky afirma que esse procedimento lembra os rituais e sacrifícios comuns `as religiões primitivas.

Todavia um paralelo com a passagem dos Atos também é possível: A Revolução comunista mata e come, literalmente, todas as criaturas impuras. Notem que para Pedro o mandamento [matar e comer] implica exatamente o oposto, implica em vida, em criar uma vida nova. Matar e comer se traduz para Pedro na criação de uma nova comunidade universal e voluntária baseada na mensagem de paz e amor de Cristo. A Igreja Cristã é o veículo para a palavra de Deus que é o caminho da salvação e, consequentemente, de um mundo melhor. Ela é uma instituição universal que se forma de baixo para cima, com a pregação entre os homens e sua reunião voluntária. As regras de comportamento, os rituais e até mesmo a hierarquia se formam lentamente e demandam um esforço hercúleo, como mostrado por Paulo, para coordená-los.

Para os comunistas, como nota Sinyavsky, a revolução é a destruição do passado e sua mensagem de um mundo novo e melhor é parida através da violência executada pelo partido único. A violência que toma a forma de ritos de sacrifício é um bacanal revolucionário. A violência, os ritos de execução, os inúmeros massacres, o holocausto de classes, realizados pelos militantes do partido comunista transforma-os em sacerdotes. E subindo na hieraquia do partido, os formuladores do extermínio são os grandes sacerdotes da nova religião, e o líder do Partido, que detém o poder supremo, só pode assumir o papel de deus.

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