Wednesday, December 31, 2014

A Genialidade de Gil Vicente: É Preciso Atualizar o Auto da Barca do Inferno?

A obra-prima de Gil Vicente, o criador do teatro em língua portuguesa [se bem que ele escreveu algumas peças em Castelhano], o Auto da Barca do Inferno é uma obra-prima não pelos aspectos artísticos e teatrais e sim pelo retrato da sociedade portuguesa da época do descobrimento do Brasil. Em quase 500 anos, a peça é de 1517, ela ainda é atual porque mostra a vitalidade de todos os males que infestam a cultura lusitana [que infelizmente é também a nossa] através de seus personagens. Dada sua  enorme corrupção inata eles só podem ser caricaturas. O brasileiro certamente reconhecerá todo o bestiário, com ligeiros retoques. O fidalgo arrogante é o sinhozinho nordestino que confunde a coisa pública com a privada; o usurário é o economista que trabalhou no governo e depois vende sua inside information e network no mercado financeiro; o sapateiro rico é o industrial da FIESP que vive roubando os consumidores, mas diz que faz um bem para o país; a alcoviteira é a típica vagabunda profissional, hoje chamadas de modelos antes de se tornarem apresentadoras de programas infantis; o parvo é o idiota inútil, o rentier que recebe bolsa-família, por isso se recusa a trabalhar e obviamente vota no PT, o partido dos rentiers idiotas e inúteis; o judeu, que Vicente trata cruelmente, pois nem o diabo o quer no inferno, mesmo quando ele se oferece para pagar seu ingresso, deve ser substituído por um membro da máfia turco-fenícia, daqueles que superfaturam as mães mas só para sacanear entregam as tias; o frade comedor, daqueles que rezam para poder pecar, terá suas preferências sexuais ligeiramente alteradas fixando sua tara em Cuba; o juiz e o promotor, ambos desonestos e corruptos, são absolutamente a mesma merda tanto ontem quanto hoje. Como vêem a única criatura a acrescentar a esse universo canalha é o petista, basta introduzir um vagabundo, mentiroso, ladrão, de língua presa, pelego de algum sindicato de trabalhadores e temos aí o Brasil varonil descrito por Gil Vicente 500 anos atrás.

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