O Bicho está Solto, por Ruy Fabiano
No final do ano passado, o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, avisou que, em 2013, “o bicho vai pegar”. É uma expressão popular autoexplicativa, que prenuncia barulho, agitação, violência.
Dita por um ministro, que, além de dos mais próximos colaboradores de Lula, exerce cargo de proa no governo e notória influência no PT, é de arrepiar, sobretudo num ano que se encerrou com o partido submetido à exposição pública do Mensalão.
O PT jamais imaginou ver algumas de suas cabeças coroadas no banco dos réus e menos ainda condenadas. Pior: sobraram balas perdidas para Lula. O Ministério Público aceitou as acusações de Marcos Valério, envolvendo o ex-presidente no Mensalão e remeteu-as à primeira instância, já que Lula não tem mais foro privilegiado. É pouco? Tem mais.
A Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, descobriu que uma quadrilha exercia, com a maior desenvoltura, tráfico de influência na administração pública, tendo como base de ação o escritório da Presidência da República em São Paulo.
No comando, a senhora Rosemary Noronha, apontada como amante de Lula, que criou aquele escritório e a nomeou para chefiá-lo, mesmo sem as credenciais técnicas para o cargo.
Tudo isso – a prisão dos condenados do Mensalão, os processos contra Lula na primeira instância e contra os envolvidos na Operação Porto Seguro – terá desdobramentos ao longo deste ano, véspera da campanha sucessória à Presidência.
Dentro da teoria de que a melhor defesa é o ataque, o PT decidiu partir para a ofensiva. Ainda não se cumpriu o primeiro trimestre e já algumas ações lideradas pelo partido indicam que o bicho está mesmo solto.
A recepção à blogueira cubana Yoani Sánchez foi apenas um aperitivo. Há dias, na inauguração do Museu de Arte do Rio de Janeiro, diversos piquetes de manifestantes do PT e do PCdoB protestavam em torno de temas diversos, desde o fechamento de teatros até a privatização dos portos.
O jornalista Merval Pereira, reconhecido pelos manifestantes, teve seu carro cercado e chutado pelos grupos e safou-se graças à ação da polícia. Pode ter sido um ato isolado de intimidação, não fosse o fato de, na mesma semana, o PT ter voltado a anunciar nova investida pelo “marco regulatório da mídia”, eufemismo de censura à imprensa.
Quem duvidar que leia os termos da proposta. Não deixam a mais remota dúvida.
Anteontem, a pretexto do Dia Internacional da Mulher, um grupo de mulheres do MST invadiu uma fazenda dos filhos da senadora Kátia Abreu, no Tocantins, destruindo plantações. Uma ação predadora e criminosa que há algum tempo não se via.
A escolha de uma propriedade da família da senadora tem forte carga simbólica: ela é a líder nacional dos produtores rurais, contra a qual se volta a ira dos radicais esquerdistas, que querem estatizar o agronegócio, mesmo sendo este o garantidor, há anos, dos superávits da balança comercial brasileira.
Em meio a tudo isso, Lula antecipa a campanha eleitoral lançando Dilma como sua candidata. Como a lógica política indica que quem sai na frente apanha primeiro, não falta quem deduza que o verdadeiro candidato de Lula é Lula mesmo.
Ele, afinal, disse mais de uma vez que, se as condições da economia não viabilizassem Dilma, ele iria “para o sacrifício”. Os indicadores econômicos, com um PIB minguante, indicam grandes chances para o sacrifício de Lula.
Os sinais, pois, são preocupantes e fazem prever um ano de intensa agitação política.
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