Excelente artigo de Cleber Benvegnú publicado na Zero Hora e reproduzido integralmente abaixo:
O Brasil, de fato, como tem dito o humorista José Simão, é o país da piada pronta. Não raras vezes, no entanto, a anedota costuma ser de mau gosto. É o caso do escândalo administrativo do Senado. Impressiona a constatação de que aquela casa, composta por 81 senadores, possuía 181 diretores com salários próximos de R$ 25 mil. Mais: o orçamento da instituição é superior ao do município de Porto Alegre. Isto mesmo: para administrar alguns poucos prédios e suas susceptibilidades, o gasto é maior que o de uma cidade com 1,4 milhão de pessoas.
Eis a prova provada da nossa cultura patrimonialista, que endeusa o Estado apenas para usá-lo como se privado fosse. É o dinheiro do povo a serviço dos privilégios de uma casta silenciosa, sorrateira e espertalhona. No Brasil, em virtude das peculiaridades do seu processo civilizatório, o poder – a Coroa Portuguesa – chegou antes da constituição comunitária. A população só veio depois, submetida e amoldada ao comando estabelecido. A consequência é que a nossa história foi se desenhando em volta das franjas estatais, enquanto a sociedade restou subjugada a um papel meramente secundário e coadjuvante.
Não é por outro motivo que a iniciativa privada é vista com tanto descaso. Não é por outro motivo que o empreendedorismo não faz parte dos currículos escolares. Não é por outro motivo que temos a maior carga tributária do planeta. Não é por outro motivo que reina a burocracia no serviço público. Não é por outro motivo, enfim, que o Estado foi se transformando num elefante gordo, vagaroso e ineficiente. Mas, apesar disso, ele ainda continua ovacionado como se fosse a única redenção possível. Vivemos, enfim, num país em que a pauta sempre trata dos direitos, quase nunca dos deveres.
Na política, o patrimonialismo se encaixa tanto na esquerda quanto na direita retrógradas. Não tem preferências partidárias e ideológicas. Seu espírito é servir-se do bolo. Basta ver que agora o governo Lula fomenta um processo de inchamento da máquina pública sem precedentes, enquanto antes um coronelismo reacionário distribuía benesses a amigos do “rei”. São muitos os que construíram sua autonomia política e financeira nesse entorno do poder. Como sanguessugas da força de trabalho alheia, fazem pouco, descansam muito, colocam o paletó na cadeira e saem a defender teses politicamente corretas. Quase nada produzem, quase nada acrescentam. Não são todos, por óbvio, mas há diversos nessa condição.
Que o caso do Senado sirva de alerta. Alerta definitivo! Que a sociedade reavive seu civismo e revigore seu ímpeto republicano. Que os funcionários públicos possam ser bem pagos e reconhecidos, contanto que de maneira justa e equilibrada. Que o Estado não seja pequeno ou grande, tão-somente efetivo. Enfim, para não deixar o pessimismo tomar conta, melhor dizer: que Deus nos proteja!
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