No primeiro post criticando finanças como conhecimento, o SB identificou profissionais de finanças como aqueles que “rodam modelos cujos fundamentos pouco entendem”. Sem dúvida, é sabido que a teoria de finanças e seus principais modelos foram desenvolvidos por economistas [Markowitz, Miller, Merton, só para nos limitarmos aos nomes que começam com a letra M]. Daí o problema: Os profissionais de finanças não têm formação para pensar, são treinados e equipados para aplicar as idéias alheias, com pouca substância teórica e reflexão. Portanto, sua arrogância intelectual, materializada pelo elevado preço que seus skills comandam no mercado financeiro, não se justifica. No segundo post o SB mostrou que os interesses “ocultos” dos profissionais de finanças causam ainda mais custos para a sociedade. Contudo, o SB concorda com Keynes quando diz na última sentença da Teoria Geral que: “soon or late, it is ideas, not vested interests, which are dangerous for good or evil” [Por favor, no resto do capitulo ignorem a defesa do socialismo].
Sim, idéias, não interesses ocultos, são mais perigosas. Como sempre, quando se fala em idéias sobre a sociedade, sempre há economistas desenvolvendo algumas das piores delas. É a pretensão do conhecimento. Por um lado [o esquerdo] há aqueles que pretendem reorganizar a sociedade. Acham que seu conhecimento é infalível, exato, e pensam que fazem engenharia, engenharia social. Ignoram os indivíduos e sua liberdade e querem impor um modelo social que julgam perfeito. O resultado catastrófico é bem conhecido: Stalin, Mao e Pol-Pot. Do outro lado [digamos, o direito], há aqueles economistas que não se importam com a sociedade como um todo. Sua pretensão aparentemente é menor. Eles só desejam bater o mercado. Eles se acham mais inteligentes, mais espertos que o mercado, por isso acham que podem batê-lo sistematicamente com o intuito de enriquecer. Esses são os economistas que se dedicam a finanças. Sua pretensão ao conhecimento e arrogância intelectual, todavia, não é menor do que a dos engenheiros sociais. O mercado é constituído por milhões de pessoas, mas como eles se acham intelectualmente superiores, eles acreditam que suas decisões são melhores e mais poderosas a ponto de manipular sistematicamente essas milhões de pessoas em benefício próprio. Os profissionais de finanças, simples parasitas intelectuais dessa concepção de mundo, acreditam piamente nessa crença.
Fazem dez anos que uma das maiores picaretagens intelectuais da história da humanidade foi pro brejo: A bancarrota do LTCM – Long-Term Capitol Management. A sua história ilustra toda a crítica que desenvolvemos. Esse fundo era administrado por dois prêmios nobel em economia, Robert Merton e Myron Scholes, que haviam sido premiados um ano antes, em 1997, por terem desenvolvido algumas das idéias e modelos mais influentes em finanças, tais como o Black-Scholes. Além desses líderes intelectuais, o fundo tinha entre seus diretores, um experiente profissional do mercado, John Meriwether e, como sempre acontece nos mercados financeiros, um insider, David Mullins, um ex vice-chairman da diretoria do Federal Reserve. O fundo, portanto, tinha tudo para dar certo: Vasto poder intelectual, gênios cujo conhecimento era suficiente para bater o mercado; experiência no mercado e, proteção pública e inside information. Para surpresa do próprio mercado, o fundo implodiu com a crise Russa.
disse tudo!!!!
ReplyDeleteAdolfo
Por que não escreve um paper sobre isto?
ReplyDeleteCaro Selva,
ReplyDeleteOlha, eu sou um misto de acadêmico, financista e funcionário público. Tenho doutorado em Economia e trabalho com projetos de desenvolvimento. Você citou Keynes e, realmente, a melhor parte da teoria financeira está em Keynes. Mas há os novos-keynesianos da teoria da informação assimétrica que explicam muito bem tudo o que está ocorrendo lá fora. Na prática, contudo, podemos dividir o mercado entre especuladores (incluindo o LTCM, com seus dois Nobel) e investidores (Warren Buffett, Benjamin Graham, Aswath Damodaran - teórico e investidor, Peter Lynch etc.).
Na prática, o que funciona ao se fazer um investimento é analisar a fundo os fatores qualitativos da situação da empresa, do setor no qual ela está inserida, a situação econômico-financeira da empresa (indicadores de liquidez, endividamento e rentabilidade, sobretudo). Alguns financistas acreditam em técnicas de valuation que descontam os fluxos de caixa esperados da empresa. Estimam assim o valor atual das ações da empresa e comparam com o valor do mercado.
Já fiz várias vezes este exercício e acho bacana como ferramenta auxiliar, mas nunca substituta de uma boa análise qualitativa.
Enfim, imagino que você se refira aos especuladores como picaretas, e não os investidores.
De qualquer modo o título do post fez uma generalização perigosa.
Abraços
Marcelo