Vejam este pequeno conto do excelente blog Caminho do Careca. Como direito de propriedade é algo desconhecido na selva, obviamente o conto vai reproduzido abaixo sem copyright.
A Falência do Economista Amador
Fiz uma pesquisa no blog e descobri que falo um bocado em dinheiro. É falta de grana pra lá, falta de dinheiro aqui, il manque dárgent ici, e por aí vai. Talvez, quando falte alguma coisa, a gente acabe por falar muito dela. Seria uma tentativa de suprir uma lacuna com palavras, uma espécie de eutanásia lingüística da saudade. Mas não funciona, é lógico. É como tentar matar shmoos.
O assunto é tão freqüente que outro dia um dos meus três leitores (eram quatro, mas a M.J. deve estar viajando) perguntou se eu era economista. Mais especificamente, ela perguntou se eu era um economista chamado Cláudio Didjei.
Respondi assim:
_ Márcia, infelizmente não sou economista (mas quero ser milionário). Meu nome não é Cláudio. E pensei que Didjéi não fosse nome, mas profissão. Agora, se eu fosse economista e me chamasse Cláudio Didjéi, certamente estaria no BACEN animando festinhas como "D.J. Careca - juro alto e lucro embaixo".
Aí fiquei pensando se eu não poderia ser um economista amador. Pensa bem. Os economistas são pessoas que entram na faculdade pensando em aprender tudo sobre economia e com isso ganhar rios de dinheiro. Eles estudam pra caramba. E aprendem tudo o que poderiam sobre economia. Aí saem da faculdade e percebem que o governo de plantão está fazendo tudo ao contrário do que deveria. E que só não falimos por milagre e graças à informalidade. Tudo o que aprenderam está de cabeça para baixo. Isso pira o ser humano. Mesmo que ele já seja um economista pirado. Oras, se um economista pirado pode dar palpites sobre a sua grana, eu também posso.
Então, ontem eu lembrei de um jeito de ganhar uns trocados. Vesti um terno, uma camisa, uma gravata, uma cueca, meias, coloquei as minhas botinas pretas e fui para o shopping com a minha pasta 007. Bom, acho que fiz isso numa ordem diferente. No shopping, sentei numa cadeira bonita, de frente para uma das lojas mais caras, perto do restaurante. Coloquei um papel impresso “ECONOMISTA AMADOR” em cima duma mesinha que tem lá e fiquei esperando o povaréu fazer perguntas. Depois de dez minutos, o povão passava e ninguém tinha perguntado nada. Comecei a ficar angustiado, aí lembrei da pasta 007. Abri a pasta, com cuidado, como se tivesse uma cobra dentro. Enfiei a mão dentro da pasta. Fui tateando dentro, olhando para cima, mordendo a língua de lado. Mexi dentro da pasta um pouco. Barulho de chocalho. Arregalei os olhos. Mexi com mais cuidado. Língua de lado. Novo barulho. Quando olhei, já havia uma multidão em volta. Tirei a mão e fechei a pasta, rápido. O povo fez “óóóóóóóóóóóóó”.
Com a pasta no colo, apontei para um sujeito de branco, com um estetoscópio no pescoço.
_Ei, o senhor é médico, não é? – eu disse, com minha bela voz de barítono.
_Como é possível? – ele perguntou, incrédulo.
O povo fez “óóóóóóóóóóóóó”.
_Adivinhei por causa do Rolex. A outra opção era Pai de Santo. Mas aposto cem real como você já perdeu dinheiro com apostas – pisquei o olho.
_É, já perdi! É incrível! – e o povo fez “óóóóóóóóóóóóó”.
_E aposto mais cem real como você paga restaurante com cheque de cliente. Tá bom ou quer mais? – e o povo fez “óóóóóóóóóóóóó”.
_ Tá bom! Eu pago! – e o povo fez “óóóóóóóóóóóóó”.
_ Paga duzentinhos aí, então – eu disse estendendo a mão.
Ele pagou e o povo fez “óóóóóóóóóóóóó”. O médico foi embora, apressado.
_Alguém mais quer me dar dinheiro? – eu falei, rangendo os dentes.
O povaréu começou a debandar. Eu coloquei a grana que o médico me passou dentro da pasta 007 e me mandei, rapidinho.
À noite, a Patroa quis saber aonde eu tinha ido de terno e gravata.
Eu expliquei, sem entrar em detalhes, que eu fui encontrar o Cabeça no shopping onde ele almoça e cobrar uma aposta antiga. O Cabeça gosta de roupa de grife. Eu sou meio largado, mas fico bem de terno. E eu tinha apostado com ele que eu, becado e com uma pasta 007, era capaz de juntar uma multidão no shopping. Cem mangos. Mais cem se o povo fizesse “óóóóóóóó”.
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